domingo, 27 de fevereiro de 2011
são crianças?
A referência dos
homens se calam
Os olhos das crianças
denunciam o submundo
criado pelos brancos
otários guardadores
dos baús de ouro
Os olhos dos pequeninos
televisionam o horror
do horror sem chão
3% do PIB mundial
exterminam a fome
e miséria do planeta
mas aos mercadores
interessam os
horrores do poder
A ironia Porto Príncipe
Imunda oligarquia
maresia da humanidade
As crianças do Haiti
submerso não têm
culpa de serem do Haiti
do capital do social
A ilha infestada
pela urbanização
antes alheia ao
comércio das elites
Seria um paraiso
nômades fora do mapa
Os olhos das crianças
do Haiti dizem olham
o que fizeram conosco
Autor: Roberto de Araújo
sábado, 26 de fevereiro de 2011
O VOLÁTIL DE NÓS
estrada inda de terra
vejo à margem
como um altar
uma árvore de ipê
tão só tão linda
Flores de setembro
que salpicam amarelas
roxas e brancas
numa alegoria natural
O cheiro do pó
remete-se à infância
ao tempo pré-vivido
e me comparo
sem perdão
com a árvore de ipê
Lutei tanto
amei tanto
acreditei tanto
sofri tanto
sorri tanto
E tudo se desmancha
no pó da estrada
quando o setembro se for
Autor: Roberto de Araújo
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
SÓ POR TI AMOR
por inteiro
de lavar
o corpo
e a alma
Só o amor
reage as
duras penas
do caminho
pedregoso
Beijo a brisa
brinco de esquecer
e penso no amanhecer
que trará um novo
amor novinho em folha
Chô rotina
chô oficina
pernas para o ar
contemplo as estrelas
e a lua que enfeitam
minha aquarela
Amor puro amor
enche meu corpo
desse mel e eu
viajo para o outro
mundo em forma
de carrossel
Autor: Roberto de Araújo
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
O PÁSSARO
caido
ferido
Seu olhar
triste
solitário
pedindo afago
que lhe dei em
seu último momento
Tão só
tão final
como todos
abaixo do sol
Seus olhos
pediam o último
aconchego
o último toque
de mãos nessa
vida horizontal
Seu olhar terno
me ensinou
a insignificância
Mas o calor das
minhas mãos
levou alguma coisa
desse para o outro mundo
Autor: Roberto de Araújo
sábado, 19 de fevereiro de 2011
A VELHA PROCURA
visão apaixonante
por um instante
gula e êxtase
A beleza
é do além
longe do mar
do corpo
da estética
patética só ela
não envelhece
Saio catando
um pouco
de estrelas
de rosas
e lá na esquina
ela vai sumindo
É coisa que não
se toma posse
somos amontoados
de seres e só enxergamos
a beleza a distância
Ela passa pela quinta
dimensão na intuição
longe da mãos famintas.
E ficamos
a procura
da pérola que
existe apenas na fantasia
resto de saudade
chegue ao menos
perto da minha mesa
Autor: Roberto de Araujo
domingo, 13 de fevereiro de 2011
A GRANDE RIO
batida remontava
a meninice
Havia um tamborim
que desfazia o
passar das horas
Havia um pandeiro
que as mulatas frenéticas
com nádegas d'ouro
arrematavam a orquestra
Não havia carência
tudo era sem preço
O esplendor da
festa preenchia a rua
o bairro a cidade o País
Precisavam de tão pouco
mas os olhos da burguesia
impregnou o mercantilismo
A pureza deu lugar
ao grande negócio
Da separação
a falsa união
do carnaval
No império do samba
a espetaculosidade
da socialaite
Lá está o pó do modernismo
o incêndio cruel do amontoado
da metrópole quinquilharia
O menino alheio a tudo
tira um samba na caixa
de fósforo como se
nada acontecera
Esse samba não
precisa de alegoria
apenas alegria
das grandes
pequenas
fantasias
Como o índio
antes dos brancos
como o céu
antes da terra
como o eterno
antes do terreno
Autor: Roberto de Araújo
RENOVAÇÃO
vejo lua céu
estrelas nuvens
como uma nova tela
Todo o fardo da
rotina é esquecida
Sou ator desse espetáculo
o grande observador
Não quero falares
comerciais não ouço
a fúria dos carros
o trânsito sumiu
da retina há um chão
e uma cortina de estrelas
Um silêncio sem igual
no qual me deito
e posso sonhar
Renovo meu ser e
volto com a esperança
que já estava perdida
Autor: Roberto de Araújo
sábado, 5 de fevereiro de 2011
A VIDA PELA APARÊNCIA
o mendigo nas ruas
a prostituição granfina
profissionalizada nos
Castelos e Hotéis luxuosos
O cão alimenta-se de caviar
o homem do cotidiano amargo
A vida que seria uma
escada para o céu
vai para lata do lixo
Os pobres comem
o que lhes restam
A diferença de linguagem
o egoísmo mortal
a política irracional
a mídia o jornal
fazem a metáfora do mal
O mundo equilibra na
corda do malabarista
pela hipocrisia do internato
do orfanato pra dizer
que aqui pratica-se
o verdadeiro amor
dos sanguessugas
E o amor passa ao largo
como flocos de morango
nos corpos dos enamorados
que perderam o CPF.
Autor: Roberto de Araújo
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
SONHO DE AMOR
Seu corpo
escultura e luz
salvação nesse
mundo rude
contrapondo-se
ao toupor
Seu aconchego
de estrela ao luar
traz na nudez
o sentimento forte
dessa sorte que me
desmancho como
água da fonte como
peixe do riacho
viro Macunaima
esqueço de mim
Há um sabor de vinho
e doçura sem igual
há um vendaval
misturado ao suor
aos lábios e corpos
cobertos de pureza
atravessando séculos
e séculos saeculorum
A vida segue seu curso
nós somos atores da
cena da poesia da
eterna mocidade
A ciência e
a invenção
não impedirão
de ser criança
homem e mulher nessa
chaga nessa saga do amor
puro que caminha ao sol
ao olhar penetrante
ao luar extasiado em
busca do transcendental
Autor: Roberto de Araújo