sábado, 29 de janeiro de 2011

ENXERGAR COM A ALMA



Plantar é ver
com os olhos
do coração

Só permanece
o cultivo
o olhar
o afagar

Coisas miúdas
não se apagam

Venha ver
a estrela
ao longe-longe
o vento aqui
da serra
as flores que
descansam os olhos

Oh vida como seria fácil...
beija-me antes que
tudo se apague

Este suspiro
bate-me a porta
essa forma frágil
de estar no mundo

Então esse cantinho
meu me aquece
cheio de verdade
e eu digo Amém
festejando a vida


Autor: Roberto de Araújo

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

ESPELHO MEU



Olho no espelho
e me exergo
em todas
as idades

Carnavais choros
sorrisos ilusões
penetram dentro
de mim por que
de mim? Ai de mim!

Logo povoa meu
pensamento a criação
e a evolução de Darwin

Procuro a razão
como humano
só vejo escuridão
mas há de
aparecer
a luz

Fixo a imagem
estampada no espelho
eu me reflito nela
e ela em mim

Quanta dó
em cada ruga
saudades amores
caminhos espinhos
flores e aurora

Vivemos tão sozinhos
no meio de tanta gente
somos bonecos mortais
para alcançar a imortalidade
no mais fundo de nós

Deus pega em nossa
mão e nos atravessa
rumo a eternidade


Autor: Roberto de Araújo

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

AMOR DE SEGUNDA MÃO



Não se respira poesia,
mas o gás carbono que
sai da máquina
mortífera
automotor

Não se respira
a flor perfumada,
mas o desgosto
dos soterrados
nas enchentes

Não se respira
à sombra da árvore,
mas o sol causticante
das vias públicas sisudas

Não se respira
mais a amizade,
mas o vil metal
das casas bancárias
cheirando a mofo

Não se respira a vida,
mas a morte antes da morte

Não se respira o amor
na acepção da palavra,
mas aquele amorzinho
comercial sem vergonha
que a água-boricada
faz a assepsia

Não se respira
aspira-se dejetos
meu Deus!


Autor: Roberto de Araújo

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

SÃO PAULO DESVAIRADA



Felizzzzzzzzz
aniversário
o sinal está
fechando
pressa...
pressa...
São Paulo
metroviário
megalópolis
mania
de crescer

Ar tosse
oxigênio
ambulância
povo
curral
magistral
garotas
programas
bananas
feira
mercado persa

Operário
esperança
salário
milionário
problemas

Prostituição
drogas
incorrigíveis
concentração
brasil engaiolado

Encantos das elites
endinheiradas
fervura da nação
tupiniquim
eu amo você
preta branca amarela
cogumelo vende-se
também

Sou gente
não sou gente
mas cada um
aprende a lição
de amar desamar
enfrentar a vida
cheia de vida
na grande paulicéia

Mário Osvald de Andrades
Adoniran samba
rock funk hip hop
a prostituição
a elitização o fashion
perfumado a descensura
tudo se costura e se compõe
São Paulo meu Amorrrrrrr


Autor: Roberto de Araújo

sábado, 22 de janeiro de 2011

A ESTRELA DE CARNE E OSSO



Das ruas
calças jeans
falta de banho
estômago vazio
um cigarro
um baseado

Filas
esperas
custosas
oportunidades vãs

Olhares de rufiões
cantadas descaradas
vontade de voltar
pra casa sumir no mundo

Uma noite dormida
volta a doença de brilhar
precisa da mídia, mídia a
toda prova na energia do
feijão do arroz do calor
da dor do sorriso do rufião

Chega-se a linha tênue
entre a loucura e sanidade

Um dia por milagre
a estrela se ascende
no firmamento ainda
que seja para imbecis
fanáticos moralistas
capitalistas negociadores
doentes carentes a estrela
perde seu brilho interior

Virou estrela do povo
o povo é povo precisa
ganhar dinheiro viver
iludir amar a atriz
e ela está farta da mídia
não precisa da mídia
mas a doença é incurável
e todos vivem dessa loucura

Quer voltar mas não
há mais caminho ele
se desfez na curva
da esquina

Do outro lado da rua
a estrela enxerga o
rapaz adolescente
sonhador passando
de bicicleta que emoção

A estrela é dinheiro
é negócio os homens
não sabem admirar
as estrelas no alto
do céu falta-lhes
mente sã

A estrela do céu
fica com inveja
a distância não
permite o mel
a graça de estar
aqui ao léu com as
multidões


Autor: Roberto de Araújo


LIBERTINAGEM DA POESIA



Caminho do descaminho
pé da poesia caminho
lírico pé do cavalo
descaminho do cavalo
dá pé na poesia lírica
do caminho

A poesia viaja
entre signos
entre almas
e redescobre
a própria poesia
que vibra que grita
pela paixão do verso
que se ama solto
no espaço

A poesia enche
de ternura
e graça
a escuridão
da mesmice

Autor:Roberto de Araújo


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

QUANDO O AMOR DOMINA



Pele na pele
boca na boca
o êxtase da
sensação

O calor
que exala
da união
mais amor
mais doação

A nudez
nos veste
de verdade

As mãos que
dançam pelas
curvas das silhuetas
fazem a linda
canção que
regam a nobreza
de não estar só

Venham carinhos
aconchegos de
primeira mão

Não há razão
a perfeição que
guarda seu corpo
d'ouro respira paixão


Autor: Roberto de Araújo

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O VELÓRIO E O CÃO




A TRAGÉDIA DA REGIÃO
SERRANA - RJ - 2011

O cachorro
na cova coberta
chora seu dono

A solidariedade
pura
fiel
exemplo
pra muitos
humanos
que só
pensam na
cobertura
na conjuntura
na escola
da cretinice
pra se dar bem

Do Bem maior
o cão deixa
a lição
só ele tem
a dor fiel
o animal
irracional
monumental
porque raciocina
sentimento
na berlinda
dos homens!

Autor: Roberto de araújo


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O FILHO QUERIDO



A mesa posta
a criança vibra
os olhos
brilham

Os olhos
dos adultos
desanimam
à tanta obrigação

O tempo não brinca
mas podemos brincar
com a vara cumprida
cutucando
o bicho feroz: A vida

Lá na infância
a mesa também posta
lá no fundinho
da memória
o encanto dos doces
amigos familiares

O pai vira criança
a mãe repete o parto

Chegamos a única conclusão
ser criança é sempre solução

O aniversário
a mesa posta doces amigos
brindam a existência
do dia que temos
que ser feliz

Pai e mãe oferece
aquele presente
a maior loteria:
Amor incondicional

Feliz aniversário Thiago.

De Roberto Kelma Marcus


Autor: Roberto de Araújo





domingo, 16 de janeiro de 2011

O ROSTO DE JESUS E DO SANTO SUDÁRO



A dor
mais doida

O peso da
humanidade

Jesus e Santo Sudário
castigados iguais
reproduzem o
sofrimento
além da face

A divindade única
forma de explicar
o mundo

O rosto de Cristo
abriga
pobres
negros
famintos
loucos
doentes
injustiçados
desamados
abandonados

A força negativa
positiva
carentes
doentes
marginais
migrantes
dementes

Pecado
cala-se
ao perdão
ódio ao
coração
limpo

A ciência
dobra-se
aos ensinamentos
ela não explica
o inexplicável
ela deduz
o exposto
aos seus olhos

O peso da verdade
Cristo suportou
para vencer o mundo

Não há argumento
há constatação
só vemos o
que se diz real

Somos cegos
além da aparência

O rosto
vilipendiado
de Cristo
lançou a semente
e nos deu vida
justificou
transfundiu
a escuridão
em luz permanente


Autor : Roberto de Araújo

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

CASA GRANDE



Colcha de retalhos
máquina de costura
lágrimas felicidades
carinhos vizinhos
compaixão perdão

A máquina
costurava
males
havia alegria
quintais
infantis

Invenções
sabor
vitória

Tanto zelo
tanta mãe
tanto pai
nada que o terço
da Ave Maria e
de Jesus não
consertasse

O som distante
Rádio Nacional
era festa
o palco
o cinema
nada mais
lindo

Quanto suor
quanta dor
quanto amor

A casa grande
quanta comida
saciava sonhos
torresmos e
pele de porco

Era tão pouco
e nos fartava
da realidade
dourada
dura e
confortante

Não havia
maior amor
novela real

Minha mãe
meu pai
meus irmãos:
Valeu a força
indestrutível
em todo tempo

Não havia
política
ladrão
escuridão
assombração

Amor..amor...amor!


Autor: Roberto de Araújo



CAMINHOS DO BRASIL - Conto em Poesia


(Nota: Por se tratar de IX
capítulos clicar na sequência
"postagens mais antigas" até
completar todos os capítulos)


Geohumanografia - I

Sub- brasil
Extra brasil
Verde brasil
Seremos a mistura
fina da grande nação
no despertar da
aurora tropical.



O primeiro olhar - II

Montado no cavalo lírico
ainda que ofegante e arredio,
galopamos aos sonhos
a poesia é como o ar e o pão.

Viajamos no tempo
pelos vários Brasis:
Havia paraíso...
havia sorriso
na face do primitivo dono.

Águas cristalinas,
matas verdejantes,
harmonia esplendorosa de nichos.

Tudo era beleza,
pela mão vigorosa
da mãe natureza.

O canto dos pássaros...
A nobreza da aves:
_ Não existia civilização.

Tudo se amava
amava-se tudo.

Tupis-guaranis,
não eram marcas de fogos
nem hino de sonata.

Sobre a terra se sentiam
a fina flor em meio
as infindáveis florestas.

Migraram pelos rios
amazonas, paraguai, guaporé, tapajós,
não precisavam do amanhã,
tinha, o hoje.

Na costa atlântica
frutos tropicais,
peixes, animais,
abençoada América.





A civilização - III

Brancos de além mar
deitaram injustiças
sobre a terra santa.

Matas derrubadas,
selou a história
da pobre rica nação.

Mascatearam o aqui encontrado,
terras, coisar, gentes, riquezas
repartindo-as em contados.

A mestiçagem oprimida,
sem horizontes,
foi o proletariado primeiro.

Da colônia à república
sempre a mesma cara:
_ Brasil sem brasileiros,
oprimido contingente.

Pela restingas da mata atlântica
o poeta itinerante
redescobre o Brasil
na mesma Cabrália- Porto Seguro.

Índios doentes
juntos a Cruz - crucificados
mendigam na contramão da história
estéril ironia - desamor - odor e dor
árida insensatez - palidez
irremediável burguesia - maresia
no recomeço da historiografia.





A nação que nos deram - IV

A razão maior deságua
no mar da liberdade.

Homens de consumo,
selvagem capitalismo,
matam criancinhas
disfarçados de Papai Noel.

Há um quisto de capitalismo
há um desespero de guerra
há uma bomba atômica no ar.

A salina da vida,
nos revigora a cada dia.

A mente vale mais que
a imposição demente.

Por vezes encolho-me
em círculos de desesperança.

Trinta milhões de excluídos,
surgem heróis em cada esquina,
resistência em cada lágrima.

A pia nos batiza,
o destino nos guia,
seguimos apenas
a própria via.

Somos muito de orfandade,
na rudeza no campo
nos arrebaldes da cidade.



A dor do menino - V

os meninos assustados
da rua 13
do bairro 13
da cidade 13
do país 13
entregues a própria sorte,
pisam no planeta alienígena
salpicam-lhes rajadas de balas
e o dia escurece em vermelhão.

Respiram crack
jamais perfumes das flores.

Os meninos
de olhos adultos
não brincam de pique
de soldadinho de chumbo
o chumbo
é o que se crava na
cabeça do elemento "X".

morte-vida horizontal
no dia-a-dia da pólvora
capital
rostos caricaturados
não cantam
o hino nacional
a sociedade lhes fede.

Roubam regularmente
legalmente para saciar
a fome do estômago
de Justiça de injustiça.

Na arena
não há pena
não há cena.

Neste matadouro
matam por
suas mortes.

No mundo 13
não há luz
não há estrelas
não há sorte
há flores repisadas.









O sol escaldante -VI

O grito forte vem do norte
de quem vive pela sorte,
um choro forte de homem valente.

Somos o pouco da seca
que nos colocou no mundo
sem uma patente.
Somos o pouco da raça
que esse chão
nos fez crescer.

Vivemos da sorte
que a cada dia
nos faz mais forte
sem temer o amanhã.

Nesses chão vencemos a
moedinha do arrependimento
dos políticos calhordas,
somos um nesse sofrimento
solidário não acreditamos
na promessa centenária
da Política Agrícola e da
Reforma Agrária.

As meninas do sol abrasador
não tem bonecas...
não brincam de flores.

Olham o horizonte
e lágrimas caem...

A tarde é sem encantos
suas vidas são vazias.
Na escola falta merenda,
falta carinho e o calor
escaldante corrói seus sonhos.

Na estrada pó, seus tristes males.
Caminham, caminha, caminham
léguas para chegar em seus lares.

As casinhas de barro a minguam
de água que mal sacia a sede...
As meninas de olhos amedrontados
não sonham com o amanhã.

Vão buscar nos rios...
têm a sina de apenas viver.
Seus dias são iguais:
- A impiedosa repetição do destino

Queriam tanto ter carinho
desses comprados pra brincar
no quintal de suas casas.

A vontade era ter uma boneca
dessas de verdade e não
essas da sua invenções.

Ter um vestido
todo rendado de cor
azul e sapatos dourados.

Uma bola pra jogar no quintal!
Seria o maior presente de natal.

Bom mesmo seria a dança, que
nunca mais parasse de dançar e se
consumir aos som da sanfona e do forro.

O sol forte em suas cabeças
provocam esses sonhos absurdos!

Amanhã farão uma bola
de meia e vão brincar
depois do sisal.

A mistura da poeira e
do vento formam uma
miragem que rodopiam
no ar e convidam as crianças
para subir pertinho do céu.

Suas mãos são calos só,
grossas de trabalho pesado,
mas o maior peso é a dor
que apertam seus corações
nesse mundo esquisito que
não podem compreender.

Queriam ser pelo menos
as flores do campo que encantam
quem passa por essas bandas.

Ser um passarinho que
pode voar pra todo o canto
e fugir do trabalho pesado.

Que bom se fossem um rio
que não secasse e nele iguais
aos peixes nadando livres,
sem essa obrigação de todo dia.

Fossem árvores de Juazeiro com
o verde da alegria fugindo da seca
que judia o corpo inteiro.

Um dia fugirão desse lugar nem
que for no pensamento!

Vão caminhando nesse sertão sem fim:
Para curar os seus espantos.
-Tragam um ramo de alecrim!

Olhai por elas: Todo Poderoso!
Pelas crianças que sofrem no sertão
e pelos meninos abandonados
nas ruas das grandes cidades.







Poetizando a esperança - VII

Calo-me com
o calo no peito
com o calo no pé
com o sonho no bolso
no descaminho do pé
mas resende poesia.

O País verde-amarelo
amarelo-ouro de pátria
mistura-se ao amarelo
dos bigodes lambuzados
de manga rosa.

Silêncio no jardim!
Respira-se!
o pássaro come bicho
o menino dorme sem percalços
tudo é inutilmente belo.

COTIDIANAMENTE
amanhece esperança
começa
tudo de tráfego
na tela cinematográfica
no eixo do ego-planeta
paradoxa utopia
calmaria noturna
barco flutuando
sonho de prosseguir.

Marinettis
Vinicius
Quintanas
Bilacs
Pessoas

Vanguardistas
redesenhem a poesia
e os anjos
em geometria
bênçãos
à arte
de versar.

Rimbauds
Drummonds
Bandeiras
Noels
Décios
Augustos.

retiram as pedras
do caminho da poesia
acordem os poetas
que dormem
ao som do samba pueril.

Do pouco que ficou
no jardim da rosa poética
meninos surgirão astros
meninos a suplantar o
mesmismo da
COMUNICAÇÃO.